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Descansa, militante: Saúde mental e ativismo político, qual o limite?

Atualizado: 8 de jun. de 2022


Por Nina Otaviano



Olá gritters, tô de volta!


Na coluna deste mês, dissertarei sobre a importância do cuidado com a saúde mental durante a participação de movimento sociais, assunto esse extremamente importante uma vez que gostamos de nos envolver em debates envolvendo pautas de movimentos sociais, direitos humanos, civis e políticos. Principalmente porque estamos em pleno ano eleitoral, no qual as feridas causadas pelas turbulências (pra não dizer coisa pior) políticas estarão plenamente escancaradas para toda a sociedade, e com certeza todo o mundo, ver.


Compreende-se que o capitalismo, aliado com seus mecanismos de opressão, exploração e alienação não só produz bens de consumo, como também produz uma sociedade na qual os desejos são essencialmente patológicos. O consumismo e o narcisismo provocados por esse sistema econômico são capazes de submeter seres humanos a reprodução de desejos absurdos que têm como consequência o adoecimento mental, principalmente quando aquela pessoa não se vê apta a alcançar tal deslumbre perpetrado pela sociedade em que vive. Cria-se então um sistema propício para um adoecimento coletivo.


Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão é considerada o mal do século, com prevalência anual de 3% a 11% na população em geral. Somente no Brasil, é postulado que 5,8% da população brasileira sofre com esta patologia. Esses dados evidenciam, mais do que nunca, o quanto a nossa sociedade tem adoecido psiquicamente em uma velocidade alucinante, e podemos indicar, sem sombra de dúvidas, que a questão social é um fator determinante nessa questão.


Neste emaranhado, a situação se agrava ainda mais pois a pobreza, a descriminação e a desigualdade são as principais ferramentas utilizadas na engrenagem social para a manutenção do nosso sistema político e econômico. A partir dessa receita para o desastre, os movimentos sociais tentam incessantemente ir em contrapartida ao sistema que é em sua essência um sistema da desumanização contínua dos sujeitos.


Nos últimos anos, foi possível observar um crescente aumento do engajamento na discussão de pautas sociais, especialmente por causa da internet e da popularização de redes sociais de comunicação rápida, como o Twitter. Consequentemente, desde ativistas políticos como Greta Thunberg, até cidadãos comuns, como eu e, provavelmente, você, leitor, um maior número de pessoas se tornaram verdadeiras “linhas de frente” nas lutas de movimentos sociais como o Movimento Negro, o Movimento Feminista, o Movimento LGBTQIA+ e dentre outros.


No entanto, como tudo nesta vida, essa mudança trouxe consequências negativas para a saúde mental de todos nós, que muitas vezes é um fator completamente ignorado durante os debates, mas que é uma realidade. Um exemplo claro disto é o resultado de uma pesquisa sobre a incidência de depressão e estresse pós-traumático na população de Hong Kong, após o início de protestos em 2019, publicado pela revista The Lancet. Segundo o estudo, cerca de 2 milhões de pessoas maiores de 18 anos apresentaram sintomas depressivos após o início dos protestos. Além disso, os pesquisadores também detectaram uma alta dos casos de depressão, chegando ao surpreendente índice de 11,22% de casos dentre os participantes da pesquisa.


Então, faz-se importante refletir sobre o custo psíquico de estar plenamente consciente de tantas injustiças e desigualdades, além do desgaste imenso que a própria luta contra direitos, que deveriam ser naturalmente respeitados, traz. Aliado a isso, também está o fato de que muitos de nós somos, também, vítimas dessas injustiças, o que, por si só, pode ser completamente adoecedor e cansativo.


Além disso, existe também o sentimento de constante culpa por se abster de debates e protestos quando estamos exauridos do constante caos que a sociedade tende a gerar em torno dos debates, e em uma sociedade onde dar uma opinião na internet – mesmo sem nenhum embasamento científico ou político – é tão importante, que chega a validar um sentimento narcísico de poder e relevância, e é claro que o resultado disso seria terrível (faço um parênteses para enfatizar que estou analisando do ponto de vista da saúde mental, pois acredito que os movimentos sociais são obviamente importantes para o desenvolvimento e a democracia de qualquer país no mundo), já que o sentimento de culpa exacerbado por si só pode ser capaz de gerar estados depressivos e ansiosos.


Enfim, acredito que principalmente durante este ano, que com certeza será um período de grande convulsão social por conta das eleições, é importante que nós, os chamados “militantes” estejamos conscientes que é preciso sim lutar, mas sobretudo é preciso cuidar de si e principalmente da mente para que a luta não nos sufoque ao invés de nos fazer avançar. Não adianta gritar por direitos humanos, enquanto o humano mais próximo de você (você mesmo) está precisando de uma pausa e principalmente de compreender o seu próprio lugar no sistema em que está lutando para equalizar.


Lutar é sim importante, realizar com orgulho o seu dever como cidadão também (Votem viu!), mas acima de tudo é importante que estejamos bem para podermos ajudar os outros, se não iremos todos afundar coletivamente. Portanto, cabe a nós criarmos estratégias para lidar com esse aspecto político da nossa vida, sabendo a hora de parar, respirar fundo e sinceramente? Se alienar um pouco! Tá liberado desligar o jornal e colocar um filme bem trash para assistir, sabe? Ou então simplesmente dizer: Eu não sei! Quando alguém fizer uma pergunta sobre aquela pauta envolvendo qualquer tipo de discriminação que seja, que está em alta nas redes sociais. Você não precisa dar conta de tudo, saber falar sobre tudo ou até mesmo lutar por tudo que existe. Às vezes a maior e mais importante luta em uma realidade que te esmaga, é permanecermos vivos e saudáveis.


Afinal, como canta o mestre Emicida “Tudo que nós tem é nois”!




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