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Gestão feminina e contenção da pandemia

por Luana Abreu


Os dez países mais afetados pela pandemia do novo coronavírus são liderados por homens. Isso porque as mulheres tendem a fazer um trabalho melhor em posições de liderança política do que homens. Mas, calma, quem tá falando não sou eu, é a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde (sim, o Banco Central Europeu é presidido por uma mulher, tá passada?).


As mulheres representam 70% dos profissionais de saúde em todo o mundo. Já na política, em 2018, nós éramos apenas 10 dos 153 chefes de Estado eleitos. Apenas um quarto dos membros dos Parlamentos do mundo são mulheres.


A pandemia do Coronavírus que alastrou todo o globo terrestre nos possibilitou observar as posturas dos chefes de Estado em situação de gestão de crise. Temos exemplos terríveis do que NÃO FAZER, como por exemplo as posturas negacionistas de Donald Trump e Jair Bolsonaro, que sem dúvidas colaboraram para a morte de mais de 1 milhão de pessoas, só nos Estados Unidos e Brasil, em apenas 1 ano. E caso não tenha me expressado bem o suficiente, negacionista é uma palavra gourmetizada para dizer, neste caso, GENOCIDAS.


Por outro lado, pudemos ver mulheres em posição de liderança dando aulas de como se governar um país. Quarentena rigorosa mais cedo, medidas protetivas rígidas, teste da população em massa, lockdown, incentivo ao uso de máscara e auxílio emergencial. Essas são só algumas posturas adotadas que possibilitaram a diminuição e praticamente erradicação do vírus em países como Nova Zelândia, governado por Jacinda Ardern.


Não posso cometer o erro de comparar países com populações completamente diferentes. Menos de 10% dos países são liderados por mulheres. Assim, a maioria dos países mais populosos do mundo e com mais casos de coronavírus, como Brasil, Índia e Estados Unidos, são governados por homens, tornando o desafio mais difícil nessas localidades do que em países menores, com menos desigualdade e maior nível socioeconômico.

No entanto, podemos notar a visível diferença em países com a mesma população, porém com líderes de gêneros diferentes. Por exemplo, a Irlanda, comandada até o fim de junho pelo primeiro-ministro Leo Varadkar (centro-direita), e a Nova Zelândia comandada por Jacinda Ardern, reeleita no fim do ano passado. Ambos países com pouco menos de 5 milhões de habitantes. A Irlanda tem mais de 25.000 casos e mais de 1.700 mortes, já a Nova Zelândia tem cerca de 1.500 casos e apenas 22 mortes. Diversas outras comparações são possíveis como Reino Unido vs. Alemanha, Israel vs. Sérvia, Paquistão vs. Bangladesh, por aí vai…


É importante ressaltar que, além de ter mulheres como líderes, esses países que estão respondendo melhor à crise têm outras coisas em comum, como terem economias desenvolvidas, com um sistema de assistência social estabelecido e alta pontuação na maioria dos indicadores de desenvolvimento humano. São países que também tendem a ter sistemas de saúde fortes, mais preparados para lidar com emergências.


Ok, mas, então, qual é a parcela do papel das lideranças mulheres no sucesso destes países no combate ao coronavírus?

Segundo as pesquisadoras Supriya Garikipati, da Universidade de Liverpool, e Uma Kambhampati, da Universidade de Reading, há alguns pontos na literatura acadêmica que mostram que mulheres tendem a ter maior aversão ao risco, mesmo em posições de liderança. Estudos anteriores citados por essas autoras também apontam para diferenças neurológicas e comportamentais que mostram que mulheres tendem a ter mais empatia, o que também auxiliou no combate à pandemia. Os fatores que as levam a ser escolhidas líderes (como boa comunicação e liderança mais participativa com os membros da equipe) são, neste caso, diferenciais para lidar com crises. Já Geeta Rao Gupta, diretora executiva do Programa 3D para Meninas e Mulheres e membro sênior da Fundação das Nações Unidas, não acha que as mulheres tenham um estilo de liderança diferente do dos homens, mas acredita que quando elas estão representadas em posições de liderança, isso traz diversidade à tomada de decisões. Rosie Campbell, diretora do Instituto Global para Liderança Feminina no King's College London, diz que devido à forma como somos socializados, é mais aceitável que as mulheres sejam líderes mais empáticas e colaborativas, e infelizmente há mais homens que se enquadram na categoria narcisista e hipercompetitiva. Líderes homens que não se encaixam no estereótipo descrito por Campbell também estão vendo relativamente menos mortes em seus países, como Moon Jae-in, na Coreia do Sul.

O papel da liderança feminina na gestão de pandemia também foi essencial para lidar com problemas já existentes que foram exacerbados, como saúde mental da população e a violência doméstica. Isso porque, enquanto mulheres, elas experimentaram a vida em papéis e responsabilidades que são afetadas socialmente pelo gênero. Assim, suas perspectivas e decisões provavelmente serão afetadas por essas experiências.

Nós mulheres não somos essencialmente empáticas, carinhosas, respeitosas, doces e amigáveis. Apesar de que somos socializadas para sermos dessa forma. No entanto, muitas vezes vemos que para subir no escalão de liderança, seja em grandes empresas ou na política, acaba sendo necessário nos “masculinizar” para sermos respeitadas nessas posições. Temos que ter pulso firme, frieza e até sermos grosseiras, porque isso é visto como características positivas em líderes homens. Só que nesse processo de recrudescimento, perdemos características “femininas” que, por mais que sejam socialmente vistas como frágeis, são o que nos tornam mais aptas e competentes para exercer essas funções, e isso a gente pode ver nessa situação que estamos vivendo, na qual precisamos mais do que nunca de uma política feita com mais AFETO.

Uma mulher pode sim ser uma chefe ou presidenta de um país e não perder seu carinho e empatia. Apoie e cobre mulheres em cargos de liderança. Respeite e incentive o crescimento das mulheres que trabalham com você.

Vote em mulheres.


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