por Izabel Baccarini e Lara Hamdan
Desde sempre as mulheres estiveram presentes no mercado de trabalho, mas os registros que falam sobre isso são bastante escassos, porque a história escrita sempre teve como protagonista o homem. Os estudos começam a apontar uma participação feminina mais efetiva a partir do período feudal, por elas serem o grupo mais numeroso da época.
Entretanto, porém, todavia…. pouco se fala desta participação ativa. Essa relação acontece, porque essas mulheres tinham como profissão a servidão, dessa forma, o trabalho doméstico era visto como inferior e de menos importância, não eram valorizados, e nunca foram vistos como trabalho e, sim, como dever, obrigação…
A força braçal da mulher começa a ser reconhecida com a revolução industrial, porque, a indústria que começava precisava de mão de obra barata, então os grandes donos de fábrica recorreram às mulheres. Acredito que aqui já seja super válido da gente começar a trabalhar com uns dados. De acordo com o estudo de Margareth Rago, professora de história na UNICAMP, as mulheres operárias estrangeiras, por exemplo, do censo de 1890, representavam 34% do total de operários. Já em 1894 a participação de mão de obra feminina na indústria têxtil na cidade de São Paulo representava 68% do total de operários.
Mesmo sendo a maior força de trabalho dentro das fábricas, as mulheres eram super desvalorizadas, tendo que arcar com um salário inferior e constantes abusos de seus patrões, tanto na esfera psicológica, quanto na esfera sexual. Por conta desses abusos e diversos outros, as mulheres se viram na necessidade de organizar um movimento social mais concreto, que lutasse por seus direitos, e é aí que surge a primeira onda do feminismo.
Apesar do grande número de trabalhadoras presentes nas primeiras fábricas brasileiras, engana-se quem pensa que elas foram substituindo os homens e conquistando mercado de trabalho.
As mulheres vão sendo gradativamente expulsas das fábricas, na medida em que avança a industrialização e há a incorporação da força de trabalho masculina.
Segundo o levantamento de 1901 do Estado de São Paulo, neste ano as mulheres totalizavam 50% de operários, sendo que sete anos antes elas eram quase 70%.
E a substituição da força de trabalho feminina pela masculina não deve ser confundida com falta de capacidade de organização e luta.
As operárias brasileiras, assim como as europeias, além de se posicionarem contra ao assédio sexual lutavam, também, por:
melhores salários;
pela redução da carga horária
e melhores condições de trabalho
As barreiras enfrentadas pelas mulheres para participar do mundo dos negócios sempre foi muito grande, independentemente da classe social que pertenciam. Da variação salarial à intimidação física, elas tiveram sempre que lutar contra inúmeros obstáculos para ingressar em um campo definido – pelos homens – como naturalmente masculino.
O contexto contexto histórico é muito importante para entendermos que a desigualdade salarial entre os gêneros era explicada, até século passado, por alguns fatores como menor nível de escolaridade, menor presença no mercado de trabalho, e pelo fato da desigualdade salarial ter, até então, permissão legal. Além disso, outro fator importante era a estruturação das funções sociais por gênero.
As lutas feministas permitiram avanços importantes nas últimas décadas. Mas esses avanços ainda não refletiram na realidade do mercado de trabalho atual. Apesar de todas as conquistas, a diferença salarial e a desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres ainda é uma realidade.
Se esses fatores já foram superados, por que as mulheres continuam recebendo salários menores do que os homens e ocupam menos cargos de liderança?
A responsável pela manutenção dessa estrutura é a construção patriarcal da nossa sociedade que determina funções e papéis sociais de acordo com o gênero.
A sociedade espera que a mulher assuma, por completo, a responsabilidade da criação dos filhos e dos afazeres domésticos, enquanto que os homens devem assumir a função de provedor do lar. E é a responsabilização da mulher pela criação dos filhos que torna força de trabalho feminina menos atrativa para as empresas, porque para cumprir com todas as obrigações da maternidade, sozinha, a mulher vai ter que abrir mão de algumas viagens de trabalho, se ausentar para cuidar da criança quando ela adoecer ou para comparecer à reuniões escolares, e, com isso, terá menor disponibilidade. Então, Bel, enquanto a sociedade continuar cobrando das mulheres a responsabilidade de criar e cuidar dos filhos e não responsabilizar os homens por essa função, a desigualdade salarial e diferença de oportunidades entre os gêneros vai persistir.
O mercado de trabalho brasileiro ainda é injusto e abusivo com as mulheres, tanto em relação às vagas disponíveis, quanto aos salários pagos pelos empregadores.
De acordo com um estudo produzido pela Oxfam Brasil, de 2018, a diferença de salários entre os gêneros atinge todas as classes sociais! E esse mesmo estudo aponta que, em 2017, as mulheres receberem 70% do valor dos salários dos homens, ou seja, enquanto os homens ganham R$1000,00 por mês, por exemplo, as mulheres ganham R$700,00.
Além disso tudo, a mulher ainda tem uma validade muito pequena no mercado de trabalho! Por ter como função biológica a reprodução:
15% são demitidas 2 meses depois da licença-maternidade
48% são demitidas 7 meses depois da licença-maternidade
E isso é um trem muito doido, né? Onde já se viu ser demitida porque reproduz…
Uma pesquisa do IBGE apontou que 47% das mães já abriram mão de algumas oportunidades de empregos melhores e de promoções, porque sabiam que teriam dificuldades em conciliar filhos e vida profissional.
Se a gente parar para reparar as profissões ditas como femininas são, normalmente, aquelas relacionadas ao cuidado! Reforçando a imposição da vocação maternal às mulheres! E a gente escuta aquela conversa, pautada na maternidade compulsória, de que toda mulher nasce pronta pra ser mãe, mas a gente esquece que desde crianças somos ensinadas e incentivadas a realizar esse papel. Basta ir na sessão pra meninas das lojas de brinquedos. Nossos primeiros brinquedos são bonecas, bercinhos, mamadeira, minicozinha… todos relacionados à maternidade e as tarefas domésticas.
O papel social imposto para as mulheres é desvalorizado em casa e no mercado de trabalho. As profissões relacionadas ao cuidado são vistas como menos importantes e, por isso, são menos valorizadas. E além de tudo isso, nós mulheres somos sub representadas no mercado de trabalho em filmes, séries, programas de televisão… E aí entramos no papo da representatividade.
Esse assunto vem tomando conta dos principais debates, seja no BBB ou em congressos pelo mundo afora. Mesmo as mulheres já sendo maioria em algumas profissões, os homens ainda dominam os cargos mais altos. Ainda de acordo com o IBGE, apenas 42% dos cargos gerenciais são ocupados por mulheres. Entre a população desempregada, elas são maioria: 54%.
No movimento negro essa questão de representatividade já vem sido apresentada muito antes do feminismo branco trazer isso para pauta. No brasil, a população negra corresponde a cerca de 50% das pessoas, mas mesmo assim é a menos representada nos mercados de trabalho que não tenham como função primordial o trabalho braçal, permitindo que a gente perceba que, no nosso país, os vestígios da escravidão ainda são muito atuais.
Segundo o Instituto Ethos: nas empresas de maior faturamento do Brasil, 58% dos aprendizes e dos trainees são negros, mas apenas 5% estão trabalhando em cargos executivos. Isso acontece porque a mão de obra negra não é considerada capacitada o suficiente para ocupar cargos de lideranças. E a ausência de pessoas negras nesses espaços diminui, pra não dizer exclui, a possibilidade de jovens negros, que estão ingressando no mercado de trabalho, de se inspirarem em grandes profissionais com os quais se identificam.
Tudo isso é só a pontinha do iceberg. Não podemos deixar de lutar para que todas as mulheres tenham um ambiente de trabalho saudável, que promova o respeito e que garanta a autossuficiência e a liberdade.
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