Gabi Bessone
Temo em dizer que sou uma romântica incurável, que o amor é uma doença crônica que carrego no peito. Os livros que li, os filmes que vi, me aprisionaram e me tornaram uma mulher pela metade. As borboletas na barriga se tornaram socos no meu estômago sempre machucado. Ser refém da ideia de amar alguém me adoeceu, aliás, me adoece constantemente.
Essa é a realidade de muitas mulheres completas, fortes e poderosas, que também sofrem da doença que é o amor romântico. Infelizmente muitas de nós crescemos com o sonho de viver um conto de fadas. Pais que criam meninas com a “historinha” do príncipe encantado, são pais que formam mulheres dependentes de um amor pra vida toda. Eu sou uma delas. É quase cômico dizer que com a força e poder que tenho dentro de mim, ainda sou prisioneira de romances passageiros. Nos ensinam a esperar um casamento, filhos que seriam frutos de um amor verdadeiro. O problema é que mesmo sendo guiadas a isso pela própria sociedade ainda retrógrada, quando sentimos demais, somos chamadas de “loucas”, “intensas”, até mesmo “emocionadas”. O julgamento que carregamos no peito por sermos aquilo que aprendemos a vida inteira nos deixam frustradas e de fato, aprisionadas. SIM, o amor é como o oceano, cheio de maravilhas e com uma profundidade letal. O romantismo é falho, é uma ilusão, ele é sorrateiro e cheio de feridas. “Para amar é preciso lutar”. Li isso em algum lugar, me marcou muito, desde quando precisamos sofrer para ver o amor nas entrelinhas? Até quando iremos aceitar o que jamais merecemos simplesmente por “amor”?
Apresento essa coluna como uma reflexão, pois esse assunto é debatido com pouca frequência. Deveríamos aprender que amar é se sentir livre na imensidão que somos, não sou apta a dizer como ele deve ser sentido, posso apenas dizer que sou uma das maiores reféns do amor romântico. Quantas mulheres carregam casamentos falidos por medo da solidão? Quantas meninas ainda vão acreditar que PRECISAM de um romance para serem completas?
A solitude é necessária para descobrirmos o valor que temos perante as relações. Enquanto tivermos medo da solidão, não vamos de fato amar. Um grande tabu que percorre séculos, talvez milênios. Penso que tal sentimento foi uma dádiva dos deuses furiosos. O amor é indecifrável, inevitável, é a cura e a peste que carregamos nas nossas entranhas.
Amar deveria ser mais fácil, possivelmente nunca entenderemos de fato o que é, porém jamais será extinto. Não pretendo atacar o amor, pretendo disseminar a beleza que esse sentimento esconde nas suas faces horrendas causadas por fantasias sociais.
Nós mulheres temos o direito de nos livrarmos do lado feio do amor. Da luta. Da dor.
Precisamos de menos contos de fadas na infância e mais realidade nos caminhos que traçamos.
Mulheres que amam demais.
Esse texto é pra vocês, especialmente pra mim.
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