O que você está construindo para além do arrasta pra cima

Por: Aretha Soyombo

Um tweet da Gabi Oliveira, também conhecida como @depretas, me fez querer escrever sobre isso de uma vez por todas. Esse assunto que trago aqui hoje é algo que já conversei e abordei muito com amigos meus, com a minha irmã e a minha família de modo geral. Eu sei que é complicado falar disso, numa era onde o ego fala muito alto, onde consumimos demais tudo que as redes sociais nos oferecem, principalmente o Instagram. E é aí que eu me pergunto: até que ponto vale a pena a gente se sacrificar por um feed instagramável? Se o Instagram acabar amanhã, o que você leva com você?

Eu seria muito hipócrita se eu dissesse que as redes sociais não são minhas aliadas. Foi através das redes que eu conheci as meninas do GRITA, foi através dos meus textos aqui que eu fui chamada para um TEDx, foi através das redes que meus alunos chegaram e chegam até mim. Mas acho problemático e confesso que até desesperador ver quanto mais essa ideia de consumo, baseada em o que a gente tem para mostrar para os outros, tem atingido a mente de muitas pessoas que estão cada vez mais pensando no agora e não estão “correndo atrás” de algo mais certo e fixo.

Nesse texto, eu não pretendo me aprofundar em todas as problemáticas sociais e raciais que envolvem questões de fama e engajamento nas redes sociais, porque eu sei que o algorítimo é racista e isso prejudica muito influenciadores negros. Também não vou falar sobre como se tornar um influencer no Instagram ou no Tiktok pode ter mudado, sim, muito a vida de muitas pessoas que conseguiram alcançar um outro padrão social por conta do dinheiro que veio através dessas ferramentas.

Mas não dá para não fazer uma relação de como eu acho sim um pouco preocupante ver como está cada vez mais comum essa ideia de que “não vale a pena estudar” porque o adolescente que dança no Tiktok faz mais dinheiro do que você que tem uma graduação, mestrado etc etc etc. E mais uma vez eu pergunto: se as redes sociais acabarem amanhã, o que resta?

Eu acho que é cada vez mais importante a gente usufruir das redes como uma ferramenta na construção de coisas reais, de algo mais duradouro. Mas investir tudo absolutamente tudo, até o que você não tem, para ter um fundo bonito e clean para tirar foto e isso melhorar seu engajamento, não deve ser seu único objetivo de vida. E eu sei que isso acontece, mais uma vez porque em muitos contratos de empresas que contratam influenciadores, essas obrigações como “fundo clean” “tirar foto em varanda” entre outras bizarrices, fazem com que quem trabalha com rede social se veja dia após dia naquela obrigação de atingir um patamar que, na minha opinião, é um pouco inalcançável pra muita gente. E eu volto a bater na tecla de que isso faz com que as pessoas se sintam cada vez mais escravas de atingirem padrões inalcançáveis, pensando de modo muito imediatista e isso vira um ciclo vicioso e no fim das contas, o que você construiu para além do “arrasta para cima”?

Quando as redes sociais pararam por um dia, muita gente entrou quase que em colapso porque dependia apenas daquilo para sobreviver, obviamente que, aqui, o meu texto tem foco nos influenciadores. Se isso acontecesse por 1 semana, você ainda teria o que fazer? O dinheiro todo que você gastou comprando todas as roupas de marcas possíveis, valeria ainda tanto a pena se isso não influenciasse em nada no seu engajamento mais?

Eu quero deixar claro que não acho um problema comprar roupas de marca, celulares caros e etc. Mas meu texto hoje vem muito com o objetivo de tentar deixar claro como eu acho importante a gente pensar no “para além”. Como a Gabi Oliveira disse no tweet dela: gastar todo o dinheiro para criar uma imagem de riqueza é cilada. Porque no final das contas não te sobra nem imagem, nem dinheiro.