Pra estar vivo é preciso estar “on-line e roteando?”
- gritaprojeto
- 1 de abr. de 2022
- 2 min de leitura
O curioso caso de seres humanos que vivem off-line. Onde moram? O que comem? Como sobrevivem? Hoje… na coluna da Gabi.
Por Gabi Bessone
Como uma bela jovem do século vinte um com ansiedade crônica e medo de não produzir o tempo todo, digo que ficar off-line pra mim não é uma opção. É quase assustador o fato de sermos muito mais virtuais do que de fato reais, somos uma geração quase ilusória. Tudo mudou muito rápido. Vejo que minha infância é muito mais palpável em minha memória do que os dias que se passam atualmente. Me lembro de coisas simples, rotineiras. Lembro do copo de leite com achocolatado todas as manhãs, lembro da grama verdinha que tinha em minha fazenda, lembro de quase tudo. Hoje não me lembro do que fiz ontem, muito menos meses atrás. Quando esqueço, recorro as ferramentas maravilhosas do Instagram: “itens arquivados” e só lá eu consigo estabelecer uma memória sobre os meus dias. Em uma das minhas viagens mentais (são muitas) relacionadas ao mundo digital, percebi que estamos muito ferrados e perdidos. Primeiramente pensei que tinha algo de errado com meu cérebro. Me preocupei, fiz exames e no final não deu em absolutamente nada. Fui revirando meus pensamentos na minha santa terapia de toda semana, discuti bastante sobre essa amnésia incomum e me deparei com um diagnóstico nada confortável. Eu estava vivendo no piloto automático, estava consumindo tantos conteúdos e pessoas virtuais que passei a inconscientemente ignorar minha realidade. Como assim? Também estou tentando entender até hoje…
Aparentemente a sociedade do cansaço agora se tornou a sociedade do esquecimento. Cheguei a ter diálogos interessantes com alguns conhecidos. É mais normal do que parece. Acreditem em mim.
Hoje em dia consumimos informações quase como engolimos água (e olha que precisamos sempre nos lembrar de nos hidratar), é rápido, fácil, instantâneo. Compartilhamos nossa vida como algo impessoal, indiferente. A cada dia que passa somos menos humanos. Somos menos reais. Somos menos verdadeiros. Eu seria muito imbecil de dizer que uso as redes de forma saudável. Aliás, existe isso?
Então começo a trazer uma reflexão que tem me incomodado o bastante pra mudar meus comportamentos: você está de fato vivendo, ou sobrevivendo no mundo de ilusão que são as redes? Você sabe separar sua humanidade do virtual? Você sabe dar limites aos pensamentos provocados por ser apenas um usuário?
A melhor reflexão fica por último.
Você acredita em vida após as redes?
Enfim, está cada dia mais difícil manter a sanidade.
Está cada dia mais difícil ser real.
Está cada dia mais difícil ser humano.
Nunca foi fácil viver em sociedade mas sinto que a nossa é um desafio à parte.
Esse texto foi escrito por uma jovem que não consegue ficar um dia sem checar as redes, que não consegue ficar um dia sem se culpar por não ser produtiva o suficiente. Esse texto foi escrito por alguém que está na mesma merda que você.
Essa coluna foi escrita pela mulher que não aguenta mais digitar, teclar, cansar os olhos com o brilho dos aparelhos. Essa coluna é de alguém que não aguenta mais o século vinte um.
Viver momentos históricos me fazem sentir que o inferno é apenas um estado de espírito.
Cansativo demais.
A esperança de evoluir ainda existe. Só não sei se conseguiremos chegar lá sãos.
Pqp. Me identifiquei demais com esse texto, Gabi. estamos de fato na merda!