por Beatriz Rodrigues e Izabel Baccarini
Feminismo é um movimento social e político, protagonizado por mulheres, que busca a libertação feminina nos mais variados âmbitos da sociedade, lutando contra o sexismo e contra o patriarcado. O movimento busca a nossa liberdade, o nosso direito de existir e não ter nossa vida violada, o nosso direito de ir e vir, de fazer nossas escolhas, de não ter nossos corpos apropriados e tomados.
Muitas pessoas ficam em dúvida do que o movimento de fato significa, principalmente quando entram conceitos como ondas e vertentes, por isso estamos aqui pra descomplicar. Em primeiro lugar, vamos entender como o movimento surgiu?
A gente inicia no pré-feminismo. O feminismo enquanto movimento organizado de mulheres só surge lá pela metade do século XIX, mas, obviamente, isso não significa que, antes disso, mulheres eram belas, recatadas, do lar. Na maioria das vezes, só não estavam organizadas em grupos.
Os primeiros registros concretos de uma busca pela igualdade entre os sexos foram lá na revolução francesa. O primeiro documento foi escrito pela francesa Olympe de Gouges, em 1791, que reivindicava direitos que eram básicos para homens, mas negados às mulheres.
E, olha que contraditório! Ela foi executada pelo próprio líder da Revolução, apenas por reivindicar os mesmos direitos de liberdade e igualdade, mas incluindo as mulheres.
Pra variar a luta feminina sendo reprimida. E mesmo assim, é cada mulher forte que já passou pela nossa história! E a gente não pode esquecer todas que vieram antes da gente lutando por tudo isso. Elas abriram um espaço enorme para nós e nos possibilitaram estar aqui hoje, conversando sobre isso!
Voltando à história, é importante entender que mulheres vêm se organizando ao longo da história de diversas maneiras e em diversos momentos. Em alguns desses momentos há um acúmulo de reivindicações e conquistas e é isso que chamamos de ondas. Em resumo, ondas são momentos históricos em que acontecem vários movimentos organizados que resultam em avanços na libertação das mulheres.
As coisas começam a mudar com a primeira onda do feminismo. Ela se passa no fim do século XIX, e foi caracterizada pela reivindicação, por parte das mulheres, dos diversos direitos básicos que já estavam sendo conquistados por homens do seu tempo, por exemplo: o voto, a participação na política e na vida pública. Além disso, as feministas da primeira onde questionavam a imposição de papéis submissos e passivos às mulheres, que eram subordinadas a pais e maridos.
Vale ressaltar, nesse momento, a diferença entre mulheres negras e mulheres brancas. Nessa época, enquanto as mulheres brancas tinham o direito de quererem trabalhar, as mulheres negras se viam obrigadas a tal, pois ainda eram vistas como servas e não tinham nenhuma liberdade de escolha.
Por causa dessas diferenças, existe um feminismo de primeira onda que, além de lutar por esses direitos políticos, lutou por algo ainda mais básico, a abolição da escravatura. Mulheres negras feministas sempre existiram, desde o pré-feminismo; e, justamente por serem negras, sempre analisaram sua condição enquanto mulheres também sob o prisma do racismo. Ainda assim, mulheres negras enfrentaram muita resistência por parte da sociedade, inclusive dentro do movimento feminista em si.
Já a segunda onda tem seu início nos anos 1950 e vai até os anos 1990. A movimentação feminista daquela época foi baseada na teoria de que a nossa exploração se dá por conta do nosso sexo e das nossas funções reprodutivas, o que resultou em uma fase de luta por direitos sexuais. É mais ou menos aqui que começa a distinção entre sexo e gênero. Sendo o sexo entendido como uma característica biológica; e gênero, como uma construção social, um conjunto de características e de papéis impostos à pessoa dependendo de seu sexo.
A mulher desde sempre esteve atrelada, social e economicamente, à sua função biológica, e o patriarcado, assim como o capitalismo, consiste essencialmente, também, na exploração dessa capacidade, para perpetuar o poder social masculino em todas as esferas da sociedade.
Apesar disso, mais uma vez, a maioria dos estudos publicados eram de autoras brancas, o que gerava análises insatisfatórias para outros grupos de mulheres, que também reivindicavam que suas identidades fossem contempladas. É nesse momento que o feminismo negro cresce enquanto movimento independente. Essas feministas entendiam que as diferenças existentes entre mulheres, de classe, raça/etnia e sexualidade, principalmente, eram decisivas e constitutivas de sua opressão.
Já que as ondas anteriores já concretizaram grande parte da luta pelos direitos institucionais e legais (mesmo que ainda tenhamos muito a avançar), a terceira onda vê a necessidade de acabar com violências simbólicas e sutis. Principalmente aqueles estereótipos de gênero que a gente vê na mídia, nas conversas, enfim! É nessa fase que percebemos que termos antiquados e preconceituosos não cabem mais no movimento. Através da criação da internet e do conceito de interseccionalidade, o movimento se torna mais democrático, buscando a libertação em todas as camadas sociais. É aqui que vem aquela frase célebre: “Eu não sou livre enquanto alguma mulher não for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas.”
Finalizando as ondas, um outro conceito que traz muita dúvida são as vertentes do feminismo. A gente viu, com as ondas, que o feminismo foi crescendo e se tornando cada vez mais complexo, e por causa dessa evolução e do surgimento de novas pautas. Assim, passaram a existir diversas correntes de pensamento diversas dentro do feminismo, e são essas correntes que a gente chama de vertentes! Todas as vertentes partem do princípio que todas as mulheres compartilham pelo menos a opressão com base no sexo, mas isso não significa que todas as mulheres têm todas as demandas necessariamente iguais. Para o feminismo conseguir representar todas essas mulheres, considerando que existem demandas particulares a certos grupos, ele precisa ser multifacetado, ou seja, abordar as mais diversas singularidades. E é pra isso que surgem as vertentes!
A vertente interseccional (Feminismo Interseccional) leva em conta as opressões que vão além do gênero, ou seja, analisa-se a intersecção entre o sexismo e as questões de raça, classe, orientação sexual… Tenta ser mais inclusivo com as diferentes demandas, igual a gente viu na evolução das ondas. E se opõe ao feminismo branco, que é um nome crítico para certas correntes elitistas que desconsideram os privilégios brancos.
Já o Feminismo Radical acredita que a origem das opressões são os papéis de gênero e que é necessária uma revolução total das estruturas sociais, só assim poderíamos realmente falar de empoderamento - que não é individual, e sim coletivo.
O Feminismo Negro existe pra suprir a exclusão das demandas de mulheres negras das outras correntes, como a gente viu na primeira onda e na segunda onda. Como a questão racista é extremamente urgente e particular, foi natural a criação dessa vertente.
No Feminismo Marxista e Socialista se pensa na opressão de gênero junto com a opressão capitalista, por meio da propriedade privada.
O Feminismo Liberal acredita que é possível inserir gradativamente as mulheres nas estruturas que já existem hoje, ou seja, não querem mudar toda a estrutura, apenas querem equiparar direitos institucionais. Então acaba olhando sob uma perspectiva individual, desconsiderando que as mulheres partem de lugares diferentes. Por isso essa vertente recebe muitas críticas, muitas vezes não é nem mais considerado parte do feminismo.
Essas são apenas algumas das vertentes principais, mas o feminismo está vivo, firme e forte, então sempre vão surgindo novas demandas. O importante é entender por que questionar o sexismo e o patriarcado é tão importante!
Se não fosse o feminismo, mulher não votava, mulher não trabalhava, mulher não era considerada gente! Foram séculos de luta para começarmos a ter voz. E mesmo assim ainda temos um longo caminho a andar! Um exemplo disso é que, ainda hoje, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil.
Certas coisas como essas e como violências domésticas e psicológicas são inadmissíveis! E o movimento tá aí justamente para trazer luz sobre esses assuntos e gritar que isso não é certo! Que precisamos, por exemplo, da lei do feminicídio, da lei Maria da Penha, porque estamos sendo mortas pelo simples fato de sermos mulheres!
Todas as mulheres precisam do feminismo, e entender esse movimento é entender as violências que nos cercam e ter força pra lutar contra elas. Lembrando que essa nossa discussão aqui só abre todo um mundo de estudos e descobertas, então não deixem de seguir páginas, ler livros, ver vídeos, ouvir podcasts pra gente se desconstruir cada vez mais.
E vamos juntas!
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