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Privilégios: culpa ou responsabilidade?

por Luana Abreu


Você reconhece os seus privilégios? Mas você sente culpa ou vergonha deles?


É de extrema importância reconhecer e aprender a viver com seus privilégios, e tentar reparar mesmo entendendo que, às vezes, você enquanto sujeito não tenha culpa nenhuma da estrutura que foi construída e vem sendo perpetuada. No entanto, é necessário entender que erros ancestrais também são nossa responsabilidade.


Se reconhecer como opressor, mesmo que indireto, não é fácil. Na maioria das vezes quem a gente vê falando sobre as opressões são os próprios oprimidos, quando na verdade quem criou essa dinâmica toda é tinha que estar buscando entender e mudar.


É de fato difícil botar a cara pra reconhecer os erros, é muito mais fácil transferi-los, é sempre o outro que está errado. É doloroso entender que você tem uma parcela de culpa em várias coisas que você abomina, e quando a gente não compreende que nós erramos, somos mais intolerantes com os erros dos outros.


Sim, alecrim dourado, por mais “desconstruídão” que você pensa ser, você vai em algum momento cometer erros, porque você faz parte dessa estrutura e a desconstrução é um processo que não tem fim. Isso não significa que somos pessoas ruins, e sim que ainda temos muito o que mudar.


Existe uma culpa de poder ocupar lugares, posições ou posturas que outras pessoas não conseguem, principalmente quando nos entendemos como feministas, anti-racistas, e lutamos contra preconceitos e discriminações. Só que quando a gente sente culpa, nos livramos dela pedindo perdão. E o perdão não é suficiente. Pedir desculpas, na grande maioria das vezes, não muda nada.


Por isso, devemos transformar essa culpa em responsabilidade, porque assim entendemos que algo deve ser feito.


A partir daí, dependendo da situação, temos duas escolhas:

A primeira é abrir mão, renunciar desse espaço (se estivermos falando de um local de privilégio mais palpável), para que outras pessoas possam usufruir. É entender que precisamos dar um passinho pro lado pra que outras pessoas possam tomar a frente.

A segunda é enxergar o privilégio como ferramenta, para abrir caminho e a partir disso trazer junto outras pessoas que não tem esses mesmos. Ocupar um espaço que pessoas que não tem os seus privilégios não conseguiriam e talvez outras pessoas que têm os mesmos que você não conseguiriam ressignificá-lo. É burlar o sistema, é crescer e puxar pra cima, dar as mãos sem desvirtuar do que acredita.


As duas posturas são necessárias, depende de você entender o momento de cada. O importante é sair desse lugar de culpa, de vergonha, e passar a ocupar o lugar de responsabilidade. Compreender que mesmo sendo oprimida em alguns aspectos, você ainda assim pode ser agente opressor.


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