por Lara Hamdan
Historicamente, o prazer feminino foi condenado pela sociedade e pelos discursos religiosos. A relação sexual para as mulheres deveria se reduzir à procriação, a “gerar herdeiros”. As instituições sociais, principalmente a Igreja, sempre idealizaram a figura da mulher como algo puro, sagrado, intocado, além de limitarem a função social da mulher à maternidade, e o maior exemplo disso é a figura Virgem Maria, símbolo da pureza e do sagrado, trouxe ao mundo o filho de Deus, sem entrar em contato com o profano, que nesse caso é representado pela prática sexual. Outro exemplo são as várias narrativas religiosas que associam o sexo feminino ao pecado, onde a mulher é sempre responsável por levar o homem a pecar por meio da sedução.
Dessa maneira, houve a criação de uma mentalidade que enxerga o prazer feminino como algo errado, inerente à vulgaridade. Com a construção e a difusão dessa mentalidade, a busca por prazer no sexo se restringiu à figura masculina, enquanto a prática sexual para a mulher se limitou à reprodução, e qualquer comportamento que desviasse desse padrão era condenável e passível de punições. Atualmente, apesar de todos os avanços conquistados pelas lutas feministas, muitas mulheres ainda não enxergam seu próprio prazer como algo natural e necessário. A repressão sexual das mulheres ao longo de todos esses anos fez com que, até hoje, nós mulheres associemos a expressão da nossa sexualidade a algo errado, sujo, anormal e até mesmo vergonhoso. Com isso, desde novas reprimimos a nossa sexualidade e, inconscientemente, associamos o nosso corpo a algo que não deve ser tocado e nem contemplado. E, assim, chegamos na vida sexual sem conhecer o nosso próprio corpo e sem saber como sentir prazer.
Além da repressão histórica, devemos considerar, também, que a nossa sociedade ainda é regida por uma cultura falocêntrica. Mas afinal, o que é isso? A cultura falocêntrica ou falocentrismo é uma visão que defende e confirma a dinâmica do patriarcado. De maneira mais clara, com base na falsa ideia de superioridade masculina, criou-se uma convicção de que o masculino é mais poderoso e mais necessário. Traduzindo para a sexualidade, a cultura falocêntrica criou uma mentalidade de que o sexo é centrado no órgão sexual masculino, de que o prazer masculino é prioridade. Dessa maneira, o sexo é reduzido à penetração. Mas por que isso é tão prejudicial para nossa sexualidade? Reduzir o ato sexual à penetração é deixar de explorar todo o potencial que o nosso corpo tem de sentir prazer, além de reforçar a ideia de que o prazer feminino não é importante.
A persistência dessas mentalidades faz com que seja comum nos deparamos com dados mostrando que 55% das mulheres não atingem o orgasmo durante a relação sexual (Pesquisa realizada pelo Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo (Prosex), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo USP). E é aí que todas nós já nos perguntamos, estamos nos perguntando ou vamos nos perguntar: “Mas como descobrir meu prazer?? Como atingir o tão famoso e desejado orgasmo?”. A verdade é que não existe receita, certo ou errado ou passo a passo. O caminho para chegar lá e sentir muito prazer é SE CONHECER.
Precisamos saber do que nós gostamos e, principalmente, do que nós NÃO gostamos. E é exatamente aí que entra a famosa MASTURBAÇÃO! Complicou de novo né? Calma! Para muitas de nós se masturbar, se tocar, é um ato que carrega um sentimento de culpa e de vergonha. É difícil para muitas mulheres, você não está sozinha.
Infelizmente, esse ainda é um assunto cercado de tabus, mas é nesse momento que precisamos parar e refletir. Lembra da condenação histórica do prazer feminino e do falocentrismo que conversamos antes? É por causa deles que a masturbação feminina é um tema que ainda gera tanta insegurança, ao contrário da masturbação masculina que é considerada algo natural.
E agora eu te pergunto: Vai continuar perdendo tempo achando que sexo não é prazeroso e que se resume a penetração? Vai continuar achando que transar é uma obrigação em um relacionamento e que seu prazer não é importante? SE TOCA, mulher! Se descubra, se liberte, seja dona do seu prazer.
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